Finalmente as aulas terminaram, estava cansado de fingir que me interessava pelo que os "profs" diziam. Desde que a minha mãe desapareceu, nunca mais senti vontade de me focar nos estudos porque nem sequer sei o que quero para o meu futuro. Quem sabe um dia alguma coisa me chame a atenção e me tire do pesadelo que vivo todos os dias, mas não tenho muita esperança.
Depois de soar o toque da campainha da escola, arrumei as minhas coisas e saí da sala em direcção ao portão da escola para esperar pelo meu pai. Ao chegar lá, deparei-me com a Laura, que estava sentada no passeio sozinha a chorar. Aproximei-me cuidadosamente e sentei-me ao lado dela, puxando toda a coragem do meu ser para perguntar-lhe o que se passava.
- Olá L... L... Laura...
Ela não se mexeu, como se nem me tivesse ouvido. Também com aquela demonstração rasca de coragem, como raio queria eu que ela notasse a minha presença?
Nesse preciso momento lembrei-me de algo que o meu pai tinha dito a mim e ao meu irmão quando nós tivemos uma discussão há uns anos.
- Eu sou mais importante Thomas!
Disse-lhe furioso.
- Não! Eu é que sou!
Gritou o Thomas, que depois me empurrou com tanta força que acabei por cair.
- Filhos! Que se passa?
Perguntou o pai, que estava a passar por ali, ajudando-me a levantar.
- Pai, queremos saber quem é mais importante para a mãe!
O meu pai ao ouvir estas palavras da minha boca, mudou a sua expressão de preocupação para um sorriso gentil, e dsse-nos palavras que ficaram no meu coração para sempre.
- Meus queridos, vocês são ambos igualmente importantes para a vossa mãe, como peças de um puzzle. Mesmo que esteja lá um de vocês, ela não consegue ver a imagem completa sem o outro.
Por isso, vocês têm de ser unidos para a ajudar a ver a imagem mais linda que ela podia visualizar.
- E que imagem é essa papá?
Perguntou o meu irmão, muito curioso.
- É a imagem de uma familia no campo, todos encostados a uma árvore abraçados com uns a sorrir e outros a rir, felizes por estarem todos juntos.
Eu fiquei espantado com aquelas palavras. Não tomava o meu pai por um homem "sábio", esperava que ele apenas dissesse que somos os dois importantes e nos despachasse.
- E já agora, a árvore também tem um significado. É onde nós nos apoiamos quando ficamos sem forças, e se o sol brilhar com muita intensidade, encostamo-nos e descansa-mos na sua sombra, fresquinhos.
Tanto eu como o meu irmão ficámos maravilhados com aquela metáfora, parecia um conto de fadas.
- Mesmo que tudo esteja péssimo na nossa vida, vocês têm de ser fortes e mostrar essa força para que a vossa mãe saiba que pode descansar.
Nesse dia, eu e ele jurámos proteger a nossa mãe e nunca mais discutir sobre a nossa familia, porque afinal, nós tinhamos de estar sempre unidos para a proteger.
Ao contemplar essas palavras, larguei o meu medo e abracei a Laura. Talvez tivesse sido uma ideia um pouco "radical", e devido á história dela, também um pouco suicida.
- Que... Que estás a fazer?
Perguntou a Laura com uma cara muito surpresa.
- Sei que tu e eu nunca nos demos bem, mas não gosto de ver ninguem a chorar. Sempre que a minha mãe choráva eu abraçava-a, sendo eu a "árvore" que a protegia da luz intensa do sol, e oferecendo-lhe um encosto para ela descansar.
Aí quem ficou surpreso fui eu, porque ela soltou um pequeno sorriso, e abraçou-me também encostando a cara no meu peito, chorando com todas as suas forças.
Pelos vistos mais uma vez o pai dela voltou a bater na mulher,que mais uma vez voltou a ir para o hospital, e mais uma vez decidiu separar-se dele, só que mais uma vez ele pediu desculpas e chorou "lágrimas de crocodilo", acabando mais uma vez com ela a perdoar o acto idiota do marido.
Pobre Laura, pelos vistos hoje foi o ultimo dia que ser uma rufia lhe ofereceu um "encosto", e caiu no chão cansada de tanto reprimir as emoções. Enfim, fiquei com ela durante uns trinta minutos, mas entrentanto o meu pai chegou e eu tive de me ir embora.
- Vais ficar bem Laura?
Eu tinha de o perguntar, sentia-me culpado por a deixar ali.
- Vou Mark, graças a ti sinto que consigo superar isto. Obrigada.
Eu sorri-lhe e entrei no carro, e á medida que este se afastava, o meu peito apertava devido a deixar a rapariga sozinha.
- Pai, pára o carro!
- Que foi filho?
O meu pai ficou bastante surpreendido com o pedido brusco que lhe fiz, e admito que também fiquei.
- Ela está a passar um mau bocado, e tu ensinaste-me a ser a "árvore" que suporta as pessoas.
O meu pai soltou um sorriso orgulhoso e parou o carro.
- Não precisas de dizer mais nada, já percebi.
Nisto ele começa a fazer marcha-á-trás. Depois de parar o carro eu abro a porta e vou ter com a Laura, que estava ainda a chorar.
- Olha, queres vir a minha casa? Posso não ter nada divertido para fazer, mas sempre é melhor
que ficares aqui no passeio á frente do portão da escola a chorar.
Ela levantou-se, deu-me um beijo na cara e dirigiu-se para o carro. Nem compreendi bem a cena do beijo, se foi um agradecimento, se foi um elogio, mas seja como for pelos vistos ela concordou. Entrámos ambos no carro e fomos para minha casa, parando apenas no supermercado para comprar algo para o jantar, até porque tinhamos pouca comida e há muito tempo que não temos uma convidada lá em casa, o que soube bem como uma lufada de ar fresco.
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